E os dois se encontravam a sós novamente, já havia bastante tempo desde a ultima vez...
Aquele quarto mal iluminado, a cama de solteiro antiga, o guarda-roupas que deveria ter 4 portas mas que só havia 3 e que tinha uma infinidade de adesivos dos Beatles. Uma cortina cor de vinho que deixava o quarto ainda mais escuro e um lençol antigo com bordados de flores. Sobre uma penteadeira havia maquiagens e revistas femininas contrastando com os livros de Direito Civil que estavam em cima da rack, cadernos com a capa rabiscada e alguns Cd's de pop rock. Definitivamente o quarto não parecia ser de uma mulher, era extramente desorganizado.
A mãe dela havia saido essa noite, dona Áurea sempre gostou de um samba no sábado, desde que superou a morte repentina do marido, ela saia pra um samba com as velhas amigas.
Em casa então, só estavam os dois, os vizinhos não o vira entrando, graças a Deus dessa vez ele escapou de ser denunciado por dona Margarida, a fofoqueira do bairro.
Entre beijos, abraços, respiração ofegante, havia também uma saudade expressa com o corpo, um toque mais suave. Um olhar lançado com ternura repentinamente, dessa vez deixaram o apelo sexual um pouco de lado. Não entendiam o porque daquela saudade tamanha. Desde o inicio o combinado era de que só seria sexo casual, coisa de momento. Então se pegavam ali, em silêncio, loucos pra dizer um ao outro o que estavam sentido, aquela sensação de leveza, como se estivessem flutuando. E havia algo gritando no peito.
Será que a brincadeira havia ficado séria demais? Ela se fazia essa pergunta amedrontada "e se ele ainda quiser apenas brincar?" ela não suportava imaginar que estava apaixonada, se encontrava preocupada em relação ao que ele poderia estar sentindo sobre ela.
Com ele acontecia o mesmo. Tinha medo de que ela tivesse outro em pensamento e que ele fosse apenas o prêmio de consolação.
Se encontravam ali, em um silêncio que parecia não ter fim. Insegurança, todo mundo sente isso algum dia.
Dona Áurea abriu o portão e ele se levantou ligeiro para se vestir. Quando finalmente estava indo pular a janela, olhou fixamente pra ela e disse "você pode nunca mais querer me ver, mas precisa saber que eu estou apaixonado por você". Ao ouvir aquilo ela sentiu-se tão completa que com um sorriso de orelha a orelha lhe disse "te espero amanhã, no mesmo horário, mas por favor, entre pela porta da frente".
Ele entendeu o recado e saiu contente, ela foi dormir nas estrelas.